quinta-feira, 7 de abril de 2016

O Ideal da Mulher Petrarquista

Resultado de imagem para botticelliEm Camões encontramos dois tipos de mulher, que correspondem a dois tipos de entendimento do amor (o carnal e o espiritual).A primeira que é intocável, misteriosa, sempre ausente mesmo quando presente - a ausência é a sua presença ou a presença é a sua ausência, ela está sempre para além do "véu terrestre"-, perante a qual o poeta se coloca de joelhos em atitude de vassalagem e de adoração. É a Laura de Petrarca. " Ela é a beleza, com os seus cabelos que fazem perder o preço ao ouro, o seu gesto sereno, a sua alegria grave, a sua harmonia pura e exacta, que dá sentido à Natureza, como as ninfas de Boticelli no meio das flores, mas sem o corpo visível. É inacessível e intocável. O seu sorriso é impessoal como o de Gioconda (Mona Lisa). Viva não é deste mundo. Petrarca chora inconsolavelmente a sua ausência, sempre no mesmo tom elegíaco. ( ... ). A morte dela não é um desastre, antes uma nova forma de ausência - ausência a que se reduziu sempre a presença de Laura." E, sendo uma imagem que está escrita na alma, é principalmente na ausência que ela se torna evidente à contemplação interior. ( ... ) Por estar longe da amada o Poeta vê mais intensamente dentro da alma, a essência da sua beleza, de que os cabelos, os olhos, as faces, são apenas, como diria Petrarca, o "véu terrestre". Sem embargo de o Poeta dizer que o objecto da sua visão é superior a tudo o que cantaram Dante e Petrarca, é na realidade a imagem de Beatriz e Laura a que ele vê na sua contemplação : é a ideia, o objecto, que os poetas vêm apurando desde os trovadores provençais.  António José Saraiva.

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