quarta-feira, 27 de abril de 2016

Influência Clássica Renascentista na Lírica Camoniana

Influência clássica renascentista na lírica camoniana
Em Luís de Camões, a tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia de sabor trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática ("medida nova") revelam a cultura humanística e clássica do autor, que soube encontrar em Platão, Petrarca ou Dante um mentor ou um mestre para o caminho que trilhou e explorou com sabedoria, com entusiasmo e com a paixão do seu temperamento. 

Cantando o amor sublime ou a relação mais fútil, o poeta soube, como poucos, definir-se e definir a alma humana, oferecendo-nos a sua experiência de vida ou o mundo no seu desconcerto, com os seus problemas sociais e morais e a eterna questão do mal que aflige a Humanidade. Os temas da sua lírica são vastos e variados, indo da análise da sua vida interior à caracterização da realidade do seu tempo ou à busca do dimensionamento do homem universal.


Na poesia com influência clássica e renascentista, fruto das novas ideias trazidas, de Itália, por Sá de Miranda e António Ferreira, verifica-se um alargamento dos temas e a colocação do ser humano no centro de todas as preocupações. 

Desta fase, merece destaque o tratamento de certos temas: o Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, os ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida.
A nível formal, o verso é o da medida nova, com o uso do verso decassílabo heroico (de acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (nas 4.ª, 8.ª e 10.ª), ou ainda, com o uso (menos frequente) do verso hexassílabo. As formas poéticas mais frequentes são o soneto, a canção, a sextina, a écloga, a elegia e a ode.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

O Ideal da Mulher Petrarquista

Resultado de imagem para botticelliEm Camões encontramos dois tipos de mulher, que correspondem a dois tipos de entendimento do amor (o carnal e o espiritual).A primeira que é intocável, misteriosa, sempre ausente mesmo quando presente - a ausência é a sua presença ou a presença é a sua ausência, ela está sempre para além do "véu terrestre"-, perante a qual o poeta se coloca de joelhos em atitude de vassalagem e de adoração. É a Laura de Petrarca. " Ela é a beleza, com os seus cabelos que fazem perder o preço ao ouro, o seu gesto sereno, a sua alegria grave, a sua harmonia pura e exacta, que dá sentido à Natureza, como as ninfas de Boticelli no meio das flores, mas sem o corpo visível. É inacessível e intocável. O seu sorriso é impessoal como o de Gioconda (Mona Lisa). Viva não é deste mundo. Petrarca chora inconsolavelmente a sua ausência, sempre no mesmo tom elegíaco. ( ... ). A morte dela não é um desastre, antes uma nova forma de ausência - ausência a que se reduziu sempre a presença de Laura." E, sendo uma imagem que está escrita na alma, é principalmente na ausência que ela se torna evidente à contemplação interior. ( ... ) Por estar longe da amada o Poeta vê mais intensamente dentro da alma, a essência da sua beleza, de que os cabelos, os olhos, as faces, são apenas, como diria Petrarca, o "véu terrestre". Sem embargo de o Poeta dizer que o objecto da sua visão é superior a tudo o que cantaram Dante e Petrarca, é na realidade a imagem de Beatriz e Laura a que ele vê na sua contemplação : é a ideia, o objecto, que os poetas vêm apurando desde os trovadores provençais.  António José Saraiva.